Publicações Postado no dia: 23 agosto, 2022

PRÉ-PAGAMENTO DE EXPORTAÇÃO (PPE): ENTENDA COMO FUNCIONA E QUAIS AS VANTAGENS

PRÉ-PAGAMENTO DE EXPORTAÇÃO (PPE)

O pré-pagamento de exportação (PPE) é uma típica modalidade de financiamento nas operações de Trade Finance, autorizada pelo Banco Central do Brasil.

O objetivo do PPE é proporcionar aos exportadores brasileiros recursos antecipados para financiar todo o ciclo de produção agrícola, desde a compra de insumos até a comercialização de seus produtos.

 

Como funciona o PPE?

No PPE, uma instituição financeira do exterior antecipa limites de crédito em moeda estrangeira a empresas exportadoras brasileiras antes do embarque da mercadoria. Esse financiamento pode chegar a 100% do valor total da exportação.

 

Quem pode solicitar o PPE?

O PPE se destina a todo produtor rural, agroindústria, empresa comercial de exportação ou trading companies, que possa comprovar, para os fins de enquadramento da operação na modalidade de PPE, a exportação da mercadoria produzida ou adquirida no mercado interno.

 

Quais são as vantagens do PPE para o produtor rural?

  • Acesso a linhas de crédito em moeda estrangeira, com taxas de juros indexadas no mercado internacional e com reembolso, do crédito tomado, diretamente em moeda estrangeira;
  • Prazo compatível com o ciclo de produção da mercadoria (por exemplo, o empréstimo concedido pode ser liberado gradualmente com cada safra e repago também de acordo com o fluxo das exportações);
  • Flexibilidade na estruturação.

Dessa forma, o PPE torna o custo de uma operação de exportação ainda mais competitivo, elevando a margem de ganho para o exportador, sem obrigar o tomador a se descapitalizar para reembolsar o banco.

 

Como é estruturada uma operação com pré-pagamento de exportação?

Uma operação de pré-financiamento de exportação é, por natureza, complexa e internacional. Logo, requer uma estrutura legal sofisticada, com um conjunto de contratos interdependentes que especificarão e definirão os termos e condições da linha de financiamento. Isso geralmente ocorre com a negociação de um Term Sheet.

 

Entenda os contratos e termos que fazem parte da operação de PPE

 

Term Sheet

Contrato inicial com os termos iniciais e diretores da operação a ser estruturada entre as partes que serão envolvidas na operação, que podem ser:

  • o credor;
  • tomador;
  • prestadores de serviços;
  • garantidores;
  • entre outros, de acordo com a complexidade e o nível de compliance que será requerido no acompanhamento da operação.

 

Export Prepayment Agreement

Uma vez que o Term Sheet é implementado, é hora de ir para o contrato principal, que geralmente é denominado Export Prepayment Agreement. Neste contrato, cada palavra tem a sua importância, pois é nele que as partes se fundamentarão para operacionalizar o acordado.

Encontraremos palavras-chaves que darão norte à operação, tais como:

  • Transactional”, que significa que a linha de financiamento concedida tem vocação operacional (em vez de operações de financiamento de projetos – Project finance);
  • “Corporate”, que remete à saúde financeira do tomador para conceder créditos;
  • Uncommitted”, que significa que o banco nunca se obriga a liberar os recursos dentro da linha de crédito,
  • as linhas de crédito podem também ser “Clean” (sem garantias exigidas pelo banco) ou “Secured” (com garantias outorgadas pelo tomador ou outro);
  • entre outras palavras-chave.

 

Purchase and Sale Export/Export Agreement

A essência mesma do PPE, como indicamos acima, é a existência de uma relação comercial de venda de mercadoria transfrontaleira, o famoso contrato de compra e venda internacional. Em nosso jargão do Trade Finance, este contrato é o Purchase and Sale Export ou Export Agreement.

Este Contrato contém os pontos práticos e comerciais da operação, que detalha a qualidade e quantidade de mercadorias financiadas, sua origem, seu porto de embarque e porto de destino, entre outros termos da venda entre o produtor/exportador e o importador. Este contrato atribuirá à operação de PPE a característica fundamental de exportação, comprovando assim a finalidade dos recursos antecipados.

Assignment Agreement

Por fim, a grande vantagem do PPE é a possibilidade de repagamento direto pelo próprio importador ao banco do valor concedido ao exportador. O contrato utilizado para tanto é o Assignment Agreement, que nada mais é uma cessão de posição na relação comercial, tornando o banco credor do importador. Dessa forma, encurta-se a cadeia e o tempo entre o momento do empréstimo e do repagamento.

Quais são as garantias usuais do PPE?

Desde que o credor concorda em pré-pagar uma exportação, ou seja, antecipar recursos que serão repagos em caso de performance da exportação da mercadoria brasileira, o risco neste tipo de operação fica maior, pois depende da produção, da existência ou até da exportação da mercadoria.

Portanto, o credor precisa de um certo nível de segurança para assegurar a transação e ter certeza de ser pago no futuro, evitando assim o risco de default, ou seja, a inadimplência do PPE.

As garantias usadas nas transações financiadas com PPE têm a finalidade de proteger o credor contra os riscos de crédito e, particularmente, contra a insolvência do devedor.

Mas estas garantias também protegem o credor contra os riscos de non-performance das obrigações da operação comercial subjacente, tais como:

  • quebra de safra;
  • desvio de mercadoria;
  • atrasos nos embarques; ou ainda
  • outros fatores de força maior.

Por isso, as garantias são um meio de aumentar a confiança dos credores, reduzindo os riscos e, portanto, reduzindo o custo do crédito também.

Além das garantias usuais de direto brasileiro cível, tais como garantias reais, fidejussórias, ou ainda títulos de crédito do agronegócio criados pela Lei 11076/2004, costumamos recorrer a outras garantias mais operacionais que peritem um acompanhamento concreto do andamento da transação.

Algumas dessas garantias incluem:

  • monitoramento da colheita, do armazenamento, do embarque das mercadorias financiadas;
  • seguros apontando o credor como beneficiário da indenização em caso de sinistro;
  • auditorias sobre a saúde econômico-financeira das partes;
  • entre outros vários recursos que fazem parte justamente da engenharia do Trade Finance.

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